quarta-feira, 15 de junho de 2011

- lágrimas de felicidade.

‘’ Eu estava sentada na areia húmida, junto ao mar, a ver o pôr-do-sol e grossas lágrimas teimavam em descer pela minha face ligeiramente bronzeada. Uma dor forte no meu coração me fazia chorar cada vez mais e mil e um pensamentos passavam na minha mente. Mais uma vez eu estava sozinha, sem ninguém para me apoiar até que ele chegou e me abraçou, por causa das lágrimas não consegui distinguir bem a silhueta do seu corpo, mas quando olhei para os seus olhos eu vi que era ele, novamente. É a única coisa que conheço dele, aquele azul brilhante que se confunde com o céu que persiste em aparecer em todos os meus sonhos desde a semana passada, que me seca as lágrimas e que, quando eu estou quase a ver todos os detalhes da sua pessoa, desaparece pois eu acordo.’’
            Mais um dia em que sonho com ele, não sei o seu nome, como é, de onde é, só conheço os seus maravilhosos olhos azuis. Levantei-me, tomei o pequeno-almoço e fui arranjar-me para ir para a faculdade. O dia correu normalmente. Como sempre, depois da morte da minha avó eu fui directamente para o cemitério. Ia sempre para lá estudar, ouvir música e ‘’falar’’ com ela. Os meus pais iam lá poucas vezes e o resto da família também, não porque não gostassem dela ou não sentissem saudades, mas simplesmente não dava devido ao quotidiano agitado da cidade. Já eu, como só tenho aulas de manhã, posso vir mais tempo e quando quero. O volume dos meus ‘’phones’’ estava no máximo e eu estava completamente concentrada no livro que estava a ler, quando começou a chover torrencialmente. Guardei as minhas coisas rapidamente, depositei a rosa branca na relva verde que rodeava a campa da minha avó e comecei a correr para me abrigar, mas a certa altura choquei contra algo forte mas quente, e quando abri os olhos eu vi aquele céu a olhar para mim, aquele par de olhos que eu conhecia tão bem dos meus sonhos, mas logo após eu desmaiei.
            Não sei quanto tempo passou, mas por mais que tentasse não conseguia abrir os olhos, a minha cabeça dói-a tanto que parecia que iria explodir se mexesse qualquer parte do meu corpo e por isso deixei-me descansar mais um pouco.
            Abri os olhos bem devagar, sabia que não estava em casa, pelo cheiro, pela luz, ergui ligeiramente a cabeça e olhei em redor, estava numa sala acolhedora, em tons bege e muito bem decorada. Ao meu lado estava um copo de água, e uma toalha húmida. Ouvi passos ao longe, e quando olhei para um pequeno corredor que ficava em frente ao sofá vi o rapaz dos olhos azuis, era um pouco mais alto que eu, talvez com um metro e oitenta, não muito mais, um bronzeado leve, cabelo castanho aloirado curto, de pijama cinzento e aconchegante era realmente muito bonito, mas o que faria eu aqui com ele? Só me lembro de ter caído depois de ter ido contra ele. Mal me viu acordada acelerou o passo.
            - Olá, como te sentes? – Ele perguntou num tom suave mas preocupado.
            - Olá, acho que bem agora, mas quem és tu? Onde estou? Porque estou aqui?
            - Duarte, prazer. Estás em minha casa e estás aqui porque quando vieste contra mim desmaiaste. Eu pensei que fosse da força, ou algo assim, mas quando peguei em ti ao colo e cheguei a um banco abrigado tu tremias imenso e estavas a arder em febre, como a minha casa é mais perto que o hospital e não sei nada sobre ti decidi trazer-te para aqui só até o temporal passar e a tua febre baixar, mas como estás assim há três dias, amanhã já te ia levar ao hospital. – Ele disse simples e a tentar responder a todas as minhas questões.
            - Desculpa – Disse envergonhada – Tiveste tanto trabalho comigo e eu em vez de agradecer faço perguntas disparatadas.
            - Não tens que pedir desculpas, se acordasse em casa de um desconhecido teria uma reacção mil vezes pior! – Ele sorriu para mim e eu acabei por dar uma pequena gargalhada.
            - Beatriz, também é um prazer, e muitíssimo obrigado por cuidares de mim – Abracei-o ligeiramente com medo da reacção dele devido à minha atitude um pouco precipitada, mas ele logo reagiu e abraçou-me também.
            - Não tens de agradecer – sussurrou no meu ouvido provocando-me calafrios pelo corpo. Ao aperceber-se afastou-se ligeiramente de mim, o que não foi muito boa ideia, pois os nossos lábios ficaram perigosamente perto e nós olhamo-nos nos olhos. Nada parecia existir á nossa volta, o tempo parou e o único som que se ouvia era o dos nossos corações. Ele beijou delicadamente os meus lábios e assim ficamos uns minutos, a saborear o momento até que respirar foi necessário. Quando nos separamos o Duarte foi preparar o jantar, enquanto eu tentava arrumar ligeiramente a pequena mesa de centro da sala de estar, onde antes estavam os comprimidos, a toalha, o copo de água e outros acessórios que ele usou para me baixar a febre. Foi aí que me apercebi que não estava a usar a minha roupa mas sim um top básico branco e umas calças de pijama preto nem muito justas nem muito largas com um casaco de malha cinzento que já parecia ser meu. Assustada e ao mesmo tempo envergonhada eu perguntei-lhe:
            - De quem são estas roupas e como as tenho vestidas?
            - Bia, essas roupas são da minha irmã gémea, ela apareceu cá em casa passado uma meia hora de eu chegar contigo, quando entrou e viu o estado em que estavas e ainda com as tuas roupas todas molhadas deu-me um sermão e foi ao carro buscar essa muda de roupa, ela anda sempre com imensa atrás dela, por isso já nem estranho, ela pediu para eu preparar um banho quente e pediu-me ajuda para te levar para a casa de banho, eu fiz o que ela mandou e quando me chamou para te ir buscar até os cabelos secos já tinhas e estavas um pouco melhor, pelo menos parecias. Deitei-te no sofá, tapei-te e tratei de ti até agora.
            - Oh… Obrigada mais uma vez, e quando estiveres com a tua irmã, agradece-lhe por mim. – Disse mais uma vez envergonhada pelo tom acusatório.
            - Ela chama-se Mafalda, e se quiseres ficar aqui até amanhã ao almoço podes agradecer-lhe pessoalmente.
            - Desculpa, mas não pode ser, eu sinto-me melhor e tenho mesmo de ir à faculdade amanhã, não posso perder mais aulas. – Duarte simplesmente riu-se – Que foi, disse alguma piada?
            - Se tiveres aulas ao domingo, não Beatriz. – E deu uma gargalhada alta.
            - Oh! É sábado? Esqueci-me completamente de associar tudo o que disseste, acho que ainda não estou a cem por cento…
            - Desculpa, estás sim, eu é que brinquei quando não devia, desculpa. – Veio até mim e agarrou a minha mão. A minha pele arrepiou-se e ficamos novamente muito próximos e entreguei-me à guerra que as nossas línguas lentamente faziam.
            - Anda, agora vamos jantar.
Passamos a noite sentados no chão a ver filmes na televisão e a conversar, enrolados num cobertor, até adormecermos abraçados.

Acordei super animada, desta vez não tive nenhum sonho com o Duarte, mas senti que o espaço em que estava era diferente. Agora estava num quarto azul-bebé, deitada numa cama de casal preta. Duarte entrou no quarto com algo na mão, pousou delicadamente e foi abrir um pouco a cortina para o sol iluminar o belíssimo quarto.
            - Bom dia, dorminhoca! – Disse alegremente e foi buscar o que tinha pousado. – Não sei bem o que gostas de tomar ao pequeno-almoço, por isso trouxe um pouco de tudo: cereais, pão, café, sumo, fruta e leite.
            - Obrigado, mas não era preciso. – Olhei maravilhada a bandeja tão bem preparada com uma rosa e um bilhete no canto.
            - Vamos fazer um acordo: Tu paras de agradecer e eu faço-te companhia, que achas?
            - Tudo bem, mas não podes mesmo sair daqui! – Pedi autoritária.
            - Claro que não. – Ele sentou-se ao meu lado e antes de pousar a bandeja no meio de nós, deu um simples beijo nos meus lábios. – Bom dia, princesa.
            Comi um pouco de tudo o que ali havia e, no fim, cheirei a linda rosa vermelha e abri o pequeno bilhete:
«Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante.»
 Antoine de St. Exupery (em "O principezinho")
É assim que penso em ti. *

Os meus olhos estavam marejados quando acabei de ler o bilhete, abracei-o e beijei-o com toda a paixão que senti naquele momento. Apesar de mal o conhecer, eu sabia que era por aquele rapaz de olhos azuis, que atormentou os meus sonhos, que eu me estava a apaixonar.
            Um mês se tinha passado desde aquele belíssimo dia. As nossas famílias já se conheciam e nós, a cada dia que passava, estávamos mais apaixonados um pelo outro. Eu continuava no meu curso de fotografia e ele no de enfermagem, e sempre que as nossas aulas acabavam e nós terminávamos os nossos trabalhos íamos para a casa um do outro. Tornou-se um quotidiano espectacular, eu amava-o e tinha quase a certeza que o Duarte também me amava a mim, mas nunca nada foi dito, nenhuma palavra sobre a nossa situação foi proferida entre nós, então deixei fluir.
            Tal como todos os dias, ele veio buscar-me à escola, mas hoje ele estava diferente, com um semblante preocupado, nada comum nele. Perdi-me em hipóteses para ele estar assim, e só depois reparei que ele não dirigia para casa, mas sim para a praia. O que se terá passado? Era a maior questão que rondava a minha cabeça. Sentamo-nos na areia húmida e fria junto ao mar e esperei que ele começasse a falar.
            - Eu… Bem… Nós… Calma. Dá-me só um minuto. – Eu cheguei-me mais para ele, e ele respirou fundo. – Eu trouxe-te aqui, porque é o lugar mais bonito que eu conheço, o som e o cheiro do mar são algo único, tal como tu. E o que eu vou dizer é algo especial, pelo menos para mim. Bia, eu nunca namorei com ninguém, nunca dei importância a isso, sempre tive coisas melhores para fazer, mas desde o dia em que vieste contra mim e eu tratei de ti que sinto que te devo proteger com a minha própria vida, já não consigo viver sem ti, é em ti que eu penso quando acordo e quando me deito, és tu quem me faz sorrir e é em ti que eu confio. Eu nunca soube o que é amar, mas se não for isto que eu sinto no meu coração, eu nunca saberei o que é amar. Eu amo-te Beatriz, mesmo muito.
            Eu chorava e ele em pânico com a minha reacção, chorou também, mas pela tristeza da rejeição que pensou vir da mulher da vida dele. Levantou-se e saiu a correr, deixando-me ali sozinha a chorar de felicidade, sem sequer saber.
            Dias e dias passaram sem que ele abrisse a porta ou atendesse o telemóvel, estava de rastos por não saber o que fiz para que isto acontecesse, falava todos os dias com a Mafalda, que também não conseguia contactar o irmão. Já passava da uma da manhã quando o telefone de minha casa tocou insistentemente e, com esperança que fosse o Duarte, atendi-o apressadamente.
            - Estou? – Disse ofegante.
            - Bia é a Mafalda, lembrei-me de uma maneira de entrar em casa do meu irmão, em 10 minutos lá, pode ser?
             - Sim, dez minutos mesmo. – Só vesti um pequeno casaco e fui para a casa dele.            Nós chegamos praticamente ao mesmo tempo, e mal nos cumprimentamos quando perguntei apressadamente.
- Qual foi a ideia luminosa?!
            - Eu e o Duarte desde pequenos não somos bons a guardar chaves, esquecemo-nos delas, perdemo-las, enfim, uma enormidade de situações diferentes, por isso ambos mantemos uma cópia em casa dos nossos pais sem eles saberem, como eu nunca mais perdi as minhas, esqueci-me completamente, só agora quando estava a ver as nossas fotografias me lembrei disso!
            - Mas encontraste a chave?! – Perguntei em desespero.
            - Claro! Senão não te mandava vir aqui!
Ela deu-me a chave e despediu-se por achar que era um momento só nosso. Com receio abri a porta, e estava à espera de qualquer coisa menos do cenário que vi quando entrei. As luzes totalmente apagadas e tudo iluminado por velas, a mesa posta para dois, com rosas e pétalas à volta, uma leve melodia ecoava no ambiente. Tal como no dia em que eu acordei no sofá, ele apareceu do pequeno corredor usando o pijama cinzento e na mão trazia as roupas que a Mafalda me tinha emprestado. Chegou ao pé de mim e, com as costas da mão, fez uma leve carícia na minha bochecha direita, olhou-me nos olhos e fez sinal para que eu fosse vestir aquela roupa. Eu não conseguia pensar em nada em concreto, fiz aquilo que ele me pediu e voltei para a sala. O jantar estava servido e ele puxou a cadeira para eu me sentar, como um cavalheiro. Comemos em silêncio, mas os nossos olhares diziam tudo, não eram necessárias palavras.
Terminamos e o Duarte chamou-me para dançar a Valsa, estava tudo perfeito, maravilhoso. Quando a música acabou, ele agarrou-me pela cintura e começou a falar.
- Por favor, perdoa-me e deixa-me falar até ao fim. Quando começaste a chorar na praia, eu pensei que fosse por não me amares, por não sentires o que eu sinto por ti. Fechei-me no meu Mundo, não atendi o telefone nem o telemóvel a ninguém, nem à minha irmã que é a minha melhor amiga. Até que ela se lembrou da chave e entrou cá em casa de aos berros a chamar por mim. Ela viu-me a chorar no chão, no sítio onde adormecemos abraçados, agarrado a uma foto nossa. Sentou-se ao meu lado e deixou-me deitar a cabeça no colo dela, como eu fazia com ela quando éramos pequenos e quem estava mal era ela. Ela começou a contar-me como tu estavas, e a dizer o quanto sou burro por ter-te deixado sozinha. Contei-lhe tudo o que te disse e a tua reacção, ela já sabia, mais ao menos, mas quando lhe contei tudo ela tentou explicar-me que aquelas lágrimas eram de pura felicidade, que aquilo que eu disse é algo único e que era o sonho de qualquer mulher ouvir aquilo. Nunca me senti tão estúpido, e pensei mesmo que te tinha perdido, mas ai a Mafalda teve esta ideia linda que eu completei, organizamos tudo, só que não consegui preparar tudo a tempo, dai esta nossa ceia. Desculpa mais uma vez, sou um parvo, mas um parvo que te ama mais que a sua própria vida, e foste tu que me ensinaste a amar como nunca vou amar ninguém.
Ele ajoelhou-se e eu que já chorava em silêncio fiquei estática, quando ele tirou uma caixa de veludo vermelho vivo das calças de pijama, eu solucei alto e ele, com a mão contrária à que segurava a caixa, tentou secar as grossas lágrimas que teimavam em deslizar pelo meu rosto. Abriu a caixa, e com os seus olhos azuis marejados pediu com a sua voz suave.
- Queres casar comigo, Beatriz? Eu prometo nunca mais fugir, nunca mais te deixar sozinha. Eu preciso de ti como preciso de ar, és tu quem ilumina toda a minha vida. Tu ensinaste-me a amar e fizeste-me crescer. Não me deixes, nunca!
- Sim, eu aceito! Eu nunca te irei deixar, meu príncipe!
- Meu amor, eu amo-te! – Ele sorriu maravilhado e colocou o lindo anel dourado com uma pequena pérola azul turquesa na minha mão direita.
- Eu também, para sempre!
Ele levantou-se beijou-me da forma mais apaixonada que poderia existir! Rodopiou-me no ar e chorou comigo. Eu seria eternamente dele, até ele não me querer mais. Eu seria a mulher dele e era com ele que eu iria construir o meu futuro e tudo o resto. Cada lágrima de felicidade que derramei por ele vale mais que cada sorriso que alguma vez eu tivera dado em toda a minha vida. Eu amo-o como nunca amei ninguém e como nunca irei amar. Os dois, juntos, eternamente.

« Que o amor seja eterno independente do quanto dure »   (autor desconhecido)

4 comentários:

ephedrine ruby disse...

beautiful, beautiful, beautiful (:
amei, amorzinho :3 está mesmo lindo :3

amo-te «3
xo

PauloSilva disse...

obrigado minha linda *

PauloSilva disse...

agradeço a tua imensa companhia <3

PauloSilva disse...

bem preciso dessa força meu anjo <3